Lá vou eu

Hoje marca 2 meses de Londres. Quando as pessoas perguntam se eu estou gostando, eu sempre pauso.

Londres é uma cidade enorme, cheia de coisas maravilhosas para fazer: musicais, comédias, parques, o resto da Europa a um passo.

Mas eu estou empacada. Eu acho que cometi um pequeno erro de cálculo.

Quando eu mudei pra Zurique há 9 anos atrás, eu não conhecia ninguém. Foi apavorante chegar num lugar onde tu não conhecia ninguém, e não sabia falar a língua. Foi um choque. Cultura diferente, trabalho diferente, tudo diferente. Aos poucos eu estabeleci laços, conheci pessoas, criei o meu espaço e comecei a me sentir confortável. Zurique não é um local ruim, é no meio do mundo. E eu conhecia muita gente por lá. Mas estava na hora de mudar de emprego, e isso definitivamente significaria mudar de cidade e país.

Depois de Zurique eu mudei pra Dublin, por 4 meses. Por mais que Dublin fosse estranha, eu já conhecia a cidade, e conhecia pessoas que moravam por lá. Nunca me senti sozinha. Tive pessoas me visitando literalmente o tempo todo que estive por lá: família e amigos. Dublin é um lugar deprê, na minha opinião, mas tendo gente por perto, dava risada: da chuva, das lesmas, da religiosidade exagerada.

Os 4 meses passaram voando e rapidamente me vi desembarcando no Vale do Silício. Lá foi fácil, denovo. Eu conhecia diversas pessoas, o emprego era super ocupado e tinha um universo de coisas para eu desvendar profissionalmente. O tempo passou rápido, as coisas andaram e caíram nos seus devidos lugares. Também recebi visitas, conheci o Mark, fomos morar juntos. Tudo aconteceu assim meio naturalmente. Sem perceber eu tinha novamente uma rede de laços estabelecidos: amigos que mudaram pro Vale, novos amigos, Mark, visitas. Tudo certo.

Agora Londres. Londres tem de tudo. Mas não tem ninguém aqui além do Mark e eu mesma. Londres está sendo difícil.

Meu erro de cálculo? Acho que subestimei a importância que pessoas (amigos e família) sempre tiveram na minha sensação de conforto com um local. Se eu estiver com meus amigos, posso estar no meio do mato e tá tudo certo. Posso estar em Dublin no meio das lesmas, posso estar em Águas Claras no meio do mato.

Estamos desempacotando, arrumando a casa, curtindo essa nova fase. Mas ainda me sinto extremamente perdida. Londres é uma cidade maravilhosa, não tenho dúvidas disso. Mas ainda não estabeleci minhas rotinas, não tenho uma rede de suporte que faça a vida aqui passar de ok para ótima. Pelo menos não ainda.

Me lembro quando mudei pra São Paulo, há milhões de anos atrás, eu ouvia a "Nova Brasil FM" e essa música tocava muito lá. Nos últimos dias, ela voltou a ser atual para mim: Zelia Duncan, Lá vou eu:

"Num apartamento perdido na cidade,
Alguém está tentando acreditar
Que as coisas vão melhorar ultimamente.
A gente não consegue
Ficar indiferente debaixo desse céu

No meu apartamento
Você não sabe o quanto voei,
O quanto me aproximei de lá da Terra
Num apartamento perdido na cidade,
Alguém está tentando acreditar
Que as coisas vão melhorar ultimamente.
No meu apartamento
Você não sabe quanto voei,
O quanto me aproximei de lá da Terra.

As luzes da cidade não chegam as estrelas sem antes me buscar."

Comments

Manuel said…
Give yourself some time. New relationships are challenging, even relationships with new places :) I'm fairly certain new friends will be met, things will settle, and you'll start feeling more comfortable. See things in perspective, and don't let too high initial expectations blur the long-term (surely) better reality. Moving is hard, that's a fact, change makes you hesitate and doubt. But I'm sure you'll find your place there, you only need to be patient and, meanwhile, take your time to enjoy the discovering a new city.

xoxo
Eliza said…
Olá Fernanda,
Te encontrei por acaso no grupo Women in Engineering Social do Facebook e achei o seu blog. Me mudei pra Londres com meu marido há 1 ano e 8 meses e sei exatamente como você se sente. A nossa adaptacao aqui foi dificil, até pq nao conhecíamos ninguem por aqui, fazer novas amizades, achar apartamento e resolver toda a burocracia nao é muito fácil mas, com o tempo e a rotina, as coisas vao se ajeitando.
Caso eu vá em um próximo evento do grupo do Facebook e te encontre lá, paro pra dar um Oi.

Eliza
Unknown said…
Boa noite Fernanda! Em primeiro lugar quero lhe dar os parabéns por este riquíssimo trabalho que, além de util pelas informações, aproxima as pessoas que buscam suas origens como eu.
Me chamo Aline Rossoni, moro em Osório e meu trisavô era Giovanni Rossoni casado com Giuseppa Ubiali, ambos de Ciserano e depois alocados no Brasil no Caraá, aqui no RS. Se tiveres qualquer documentação ou informação que possam me ajudar para a cidadania italiana ficaria muito agradecida. Abraços e tudo de melhor!

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