Minha primeira foto 3x4

Quando eu era bem pequena, tipo 3 ou 4 anos de idade, eu tinha uma amiga, inseparável. O nome dela é Clarissa. Eu não sei o sobrenome dela, naquela época, sobrenomes não eram importantes para mim.

Nós realmente éramos do tipo inseparáveis. Dançávamos juntas na sala da minha casa todas as músicas dos discos da Xuxa. E algumas vezes fazíamos o impossível para que nossas irmãs mais velhas nos levassem junto às festinhas de aniversário dos amigos. Brincávamos de boneca, e de amarelinha. A gente se divertia muito juntas.

Clarissa é sem dúvida grande parte das boas memórias que eu tenho da minha infância. 

Quando eu me mudei da casa onde morava, coincidentemente ao mesmo tempo que a família da Clarissa também estava se mudando, foi super difícil para mim. Eu lembro o quanto eu chorei porque eu sabia que a Clarissa não ía mais estar tão perto de mim, e por mais que a gente se esforçasse, não conseguiríamos manter nossa amizade.  

Eu me lembro de estar chorando, no colo da minha mãe, falando sobre isso, e minha mãe tentava me consolar, dizendo que poderíamos visitar uma a outra. Meu argumento era de que eu era pequena demais para andar de ônibus sozinha, e que por isso não poderia visitar Clarissa sempre que eu quisesse. Minha mãe disse que eu cresceria rápido.

Nesta época eu tinha 6 anos de idade. Eu estava mudando de colégio, em função da mudança de bairro, e tive que tirar fotos 3x4 para fazer meu cadastro na nova escola. Eu dei uma dessas fotos de presente para a Clarissa.

O tempo passou, e minha previsão se concretizou: eu e a Clarissa nunca mais nos vimos depois de mudar para nossas novas casas.

No ano de 2000, durante a campanha política do Tarso Genro para prefeitura, em Porto Alegre, eu estava trabalhando para o Correio fazendo inscrições do vestibular dentro de um curso pre-vestibular chamado Mauá, em Porto Alegre. Naquele dia, que não me lembro bem qual era, tinha uma palestra com o Tarso Genro lá no Mauá. E eu fiquei para assistir. 

Encerrada a palestra, eu encontrei um rosto conhecido no elevador. Olhei para aquela estranha, e falamos uma o nome da outra, ao mesmo tempo. Coisa de filme. Sim, era a Clarissa. Trocamos um abraço, e alguma informação de como a vida andava e tudo. Naquela época ela estava engajada como militante da UJS (União da Juventude Socialista), e eu, naquele tempo petista, fazia panfletagem e ia a inúmeros comíssios e passeatas fazendo campanha para Tarso.

Bom, isso é tudo o que sei sobre a nova (agora já velha) Clarissa.

Depois do abraço, e das fofocas, Clarissa abre a carteira dela e me mostra uma foto que ela carregava até aqueles dias consigo: minha primeira foto 3x4, Fernanda, desdentada, 6 anos de idade, vestindo uma camisa de listrinhas vermelha e branca. Eu não tenho nenhuma foto dela. Mas ainda tenho ótimas lembranças.

As vezes eu me pergunto o que aconteceu com ela, e também como é engraçado a maneira com que o destino traz e leva pessoas de nossas vidas.

Comments

Unknown said…
Nossa, que bonito isto. :~
Unknown said…
É, parece história de filme.

Por isso acredito que se tem uma coisa que vale na vida, são os amigos. :)

Beijo!
Um texto muito bonito mesmo. Eu torço para que, mesmo longe fisicamente, a gente não se afaste tanto...

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